Chega a ser curiosa a propensão que temos
para adiar a felicidade, sujeitando-a, o tempo todo, a uma circunstância
qualquer. Estamos sempre estabelecendo condições para nos permitirmos um prazer
pleno neste instante mesmo, sem subordinarmos nossa alegria a coisa alguma.
Seremos felizes, mas quando comprarmos um carro, ou um bom apartamento, ou um
bom emprego, ou acertarmos na loteria, ou conhecermos uma pessoa especial, ou
tivermos um filho, ou outra coisa qualquer.
A
maior parte de nós não consegue viver realmente, pois gasta toda a sua energia
numa interminável preparação. E o fato é que, concordemos ou não, enquanto nos
preparamos, estamos tão somente passando pela vida.
A
grande verdade é que desperdiçamos nosso tempo enganando a nós mesmos, nos
iludindo de que, quando conseguirmos tal coisa ou chegarmos a tal lugar,
seremos felizes afinal. Mas o que acontece então é estabelecermos um novo
objetivo, uma outra condição para que, uma vez cumprida, possamos nos sentir
finalmente satisfeitos com a vida. Desnecessário dizer que esse adiamento não
tem fim e que a felicidade tão sonhada nunca chega.
No
grande cruzeiro da existência, velejamos o tempo todo com a atenção voltada
para o momento em que o navio atraca. E perdemos, nessa ânsia, as ondas do
verde mar que vem e vão, o céu azul recheado de nuvens brancas, o vôo
compassado das gaivotas anunciando terra firme. Obcecado pelo instante da
chegada, mal desfrutamos os encantos da viagem.
Ser
feliz deveria ser, antes de uma tentativa planejada uma espécie de nosso
destino natural e espontâneo. Deveríamos sentir felicidade sempre, independente
de qualquer coisa: apenas por estarmos vivos, por percebermos o quanto é
especial e emocionante viver simplesmente; isto: VIVER.
Pois
é triste desperdiçarmos tanto tempo e tanta vida no adiantamento constante da
alegria. É triste nos darmos conta, tarde demais de que o tempo de ser feliz
não era outro senão o presente, e o amanhã que ingenuamente esperamos, por mais
que tenhamos fé jamais chegará.
RENATO GAÚCHO
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