domingo, 24 de agosto de 2014








 Chega a ser curiosa a propensão que temos para adiar a felicidade, sujeitando-a, o tempo todo, a uma circunstância qualquer. Estamos sempre estabelecendo condições para nos permitirmos um prazer pleno neste instante mesmo, sem subordinarmos nossa alegria a coisa alguma. Seremos felizes, mas quando comprarmos um carro, ou um bom apartamento, ou um bom emprego, ou acertarmos na loteria, ou conhecermos uma pessoa especial, ou tivermos um filho, ou outra coisa qualquer.
A maior parte de nós não consegue viver realmente, pois gasta toda a sua energia numa interminável preparação. E o fato é que, concordemos ou não, enquanto nos preparamos, estamos tão somente passando pela vida.
A grande verdade é que desperdiçamos nosso tempo enganando a nós mesmos, nos iludindo de que, quando conseguirmos tal coisa ou chegarmos a tal lugar, seremos felizes afinal. Mas o que acontece então é estabelecermos um novo objetivo, uma outra condição para que, uma vez cumprida, possamos nos sentir finalmente satisfeitos com a vida. Desnecessário dizer que esse adiamento não tem fim e que a felicidade tão sonhada nunca chega.
No grande cruzeiro da existência, velejamos o tempo todo com a atenção voltada para o momento em que o navio atraca. E perdemos, nessa ânsia, as ondas do verde mar que vem e vão, o céu azul recheado de nuvens brancas, o vôo compassado das gaivotas anunciando terra firme. Obcecado pelo instante da chegada, mal desfrutamos os encantos da viagem.
Ser feliz deveria ser, antes de uma tentativa planejada uma espécie de nosso destino natural e espontâneo. Deveríamos sentir felicidade sempre, independente de qualquer coisa: apenas por estarmos vivos, por percebermos o quanto é especial e emocionante viver simplesmente; isto: VIVER.
Pois é triste desperdiçarmos tanto tempo e tanta vida no adiantamento constante da alegria. É triste nos darmos conta, tarde demais de que o tempo de ser feliz não era outro senão o presente, e o amanhã que ingenuamente esperamos, por mais que tenhamos fé jamais chegará.
                                                      


                                                                                               RENATO GAÚCHO

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